domingo, 9 de setembro de 2012

Por Um País de Luz Perfeita e Clara

Estes são tempos de cinza. Estamos imersas e imersos nas cinzas dos incêndios que a troika, esse monstro de homens e gente afundada em fortunas e maldições de Midas, ateia com volúpia. Não. Eu digo-lhes não, não e não. Chega. Basta. Esta é a minha gente, este é o meu povo, estes são os meus rostos de silêncio e de paciência (e não perco tempo a explicar-lhes qu
em é Sophia, porque é nossa e de todos, e para todos a luz, para todas tudo; mas não para quem nos dispara a perdição no rosto), e é por eles que não vos deixarei nunca cantar vitória. digo-lhes. Porque estes rostos também são de bravura e dignidade, grito-lhes. Quinze, Setembro, em todas as ruas, em todos os poros da pele deste país de rochas e sonhos profundos, sibilo-lhes.
Não quero o fim de algo. Quero que tudo comece. Não sei o que é uma revolução, mas sei o que é cantar e sentir a voz espacial, degrau a degrau, porque os nossos ombros estão todos à altura da dignidade que nos faz cantar, à altura do olhar que nos faz mirar um futuro de luz perfeita e clara. Porque sim. Porque podemos. Porque sabemos. E somos todos vozes de fúria. E seremos todos vozes de vitória. Não quero que tudo acabe. Quero que tudo comece, que a realização das nossas potências não seja um sonho demente (como os poderes desejam, desvelados que estão, desnudos na sua podridão); quero que tenhamos direito ao delírio; quero coisas belas e radiantes para estes rostos esculpidos ao vento. A troika deleita-se com computadores e previsões e inevitabilidades. Nós temo-nos umas às outras. Nós agarramo-nos uns aos outros. Deixemo-los falar a língua da técnica e da estatística e dos números. Nós falamos em todas as línguas do mundo. Nós olhamo-nos em todos os olhos do mundo. A troika sabe muito. O governo sabe tudo. Nós também sabemos muito, mas levantamo-nos do chão porque sabemos, acima de tudo, sentir e pensar. Nós somos horizontes de alternativas. E, em bom português - sempre em bom português -, há mais dias que chouriços. Cá estaremos, de riso guardado, de sofrimento ao peito, mas sempre com o futuro em riste, porque a nossa perdição não vo-la daremos nunca.
Não sei onde este quinze de muitos nos pode levar. Sei para onde a troika pode ir. Sei o que quero dizer à troika. Mas prefiro juntar-me às mil vozes que o dirão. E é isto que encostará o meu ombro ao teu.

LUÍS BERNARDO